A gente vive querendo silêncio. Ou melhor, controle sobre o que entra nos nossos ouvidos. Seja para mergulhar numa faixa com todos os detalhes possíveis ou para sentir o chão tremer com cada batida. E quando duas opções da mesma marca prometem entregar isso — mas de jeitos opostos — a confusão está feita.
De um lado, o Sony WH-1000XM4, aquele clássico que parece saber exatamente onde cada som deve estar. Do outro, o Sony ULT WEAR, que chega com força total, sem cerimônia, quase dizendo “esquece a precisão, vamos sentir a música”. E olha, ele cumpre o que promete — com folga.
Nós testamos os dois por semanas, ouvimos todos os estilos, passamos horas com eles na cabeça, em voos, na rua, no sofá. E sim, são auscultadores com propostas completamente diferentes, o que só deixa a escolha ainda mais tensa. Vamos explicar tudo. Sem enrolação, sem meias palavras.
Um clássico limpo ou uma explosão urbana?

A diferença já começa no toque. O WH-1000XM4 tem acabamento mais refinado, discreto, quase elegante, com um ar que combina mais com um escritório silencioso do que com o barulho da rua. As almofadas são suaves, mais estreitas, o que às vezes pode apertar um pouco mais em orelhas maiores. Mas a leveza e o encaixe equilibrado fazem com que ele desapareça da cabeça depois de alguns minutos.
O ULT WEAR chega com linhas mais ousadas, detalhes mais marcantes, e um design que grita “jovem, moderno, ousado”. As almofadas são mais largas e profundas, o que ajuda demais no conforto em longas sessões — especialmente se você costuma sentir aquela pressão chata depois de um tempo.
É um pouco aquela velha disputa entre elegância e praticidade. Um veste como um blazer sob medida. O outro é aquela jaqueta larga que a gente ama usar no dia a dia.
Clareza limpa ou soco no estômago?
A coisa esquenta de verdade quando ligamos o som. O WH-1000XM4 entra com tudo: uma assinatura sonora equilibrada, refinada e ampla, com agudos cristalinos e vocais que flutuam num palco aberto. Os graves estão lá, presentes, controlados, sem exagero. É o tipo de som que deixa você descobrir instrumentos escondidos numa faixa que você achava que conhecia de cor.
Já o ULT WEAR chega com os dois pés no peito. Mesmo desligando os modos ULT, os graves são encorpados, vivos e pulsantes. Com o ULT1 ativado, o impacto cresce, os subgraves se estendem, e o corpo todo sente a música vibrando. No ULT2, então, parece que você está dentro da batida. Claro que isso tem um custo: médios recuam, detalhes se perdem um pouco, e a definição fica em segundo plano.
É como comparar um vinho encorpado com um café forte. Um vai pelas camadas, o outro pelo impacto imediato.
Silêncio absoluto ou isolamento do cotidiano?

O WH-1000XM4 ainda reina em cancelamento de ruído tradicional. Em aviões ou ônibus, onde o som grave e constante é o vilão, ele simplesmente apaga o mundo. É como fechar uma porta pesada entre você e o barulho lá fora.
O ULT WEAR, por outro lado, impressiona com a forma como lida com ambientes urbanos. Conversas próximas, barulho de teclado, vozes ao redor… tudo isso desaparece de um jeito surpreendente. A vedação passiva dele já é boa, e o cancelamento ativo consegue limpar sons imprevisíveis com eficiência.
É como se cada um fosse feito para um cenário diferente. Um para longas viagens em silêncio. O outro para sobreviver ao caos do escritório ou da rua.
Quando você quer ouvir o mundo
O modo de transparência virou padrão — e os dois têm — mas o comportamento é bem distinto. O WH-1000XM4 tem aquele recurso automático que pausa tudo quando você começa a falar. Legal na teoria, mas na prática nem sempre é útil. Às vezes a gente só quer cantar junto, sabe? E ele pausa do mesmo jeito. Além disso, o som ambiente que entra por ele não é tão claro assim, meio abafado.
O ULT WEAR acerta em cheio aqui. O som externo entra com mais naturalidade, mais nítido, o que facilita conversar, ouvir alertas ou pedir um café sem tirar os auscultadores. E o botão físico ajuda muito: um clique e pronto, você muda de modo na hora.
Essa parte parece pequena, mas no dia a dia faz muita diferença.
Quem aguenta mais sem carregar?

Ambos entregam uma autonomia excelente, daquelas que fazem você esquecer onde deixou o cabo. Mas enquanto a duração é quase empatada, o WH-1000XM4 leva vantagem na sofisticação dos recursos.
Com o DSEE Extreme, ele consegue melhorar a qualidade de arquivos comprimidos automaticamente, o que ajuda bastante se você ainda ouve músicas fora do streaming de alta definição. E o mais curioso: ele consegue usar o codec LDAC (de alta qualidade) mesmo quando está conectado a dois dispositivos ao mesmo tempo.
Já o ULT WEAR perde o LDAC quando está no modo multiponto. E não tem sensores de proximidade — ou seja, se você tirar os auscultadores, a música continua tocando. Parece um detalhe, mas mostra como ele é menos “esperto” nesse ponto.
Microfones decentes, sem milagres
Aqui não há muito suspense. Ambos funcionam bem para chamadas, seja em ambientes barulhentos ou mais silenciosos. Os microfones captam com clareza, isolam ruídos externos com eficiência e garantem uma boa experiência em chamadas ou videoconferências.
A diferença? Quase imperceptível. Se você usa Teams, Zoom, WhatsApp ou o que for, nenhum dos dois vai decepcionar.
Aqui o ULT mostra quem manda

Agora, se o assunto são os graves… o ULT WEAR muda o jogo. Ele oferece três modos — ULT Off, ULT1 e ULT2 — que basicamente controlam a quantidade de terremoto que você quer nos ouvidos.
No modo ULT Off, o som já é pesado, com subgraves marcantes. ULT1 adiciona presença sem exageros. Mas ULT2… é outra história. A vibração chega a ser física, como se o ar ao redor tremesse junto com a música. Para quem ouve hip hop, EDM ou qualquer coisa com batida forte, não tem volta depois disso.
O WH-1000XM4 tenta competir com ajustes manuais no equalizador, como o aumento do CLEARBASS, mas ele se limita para evitar distorção. Resultado: os graves nunca chegam ao mesmo impacto. É mais contido, mais cuidadoso, menos visceral.
E afinal… qual escolher?
Essa escolha mexeu com a gente. E olha, não foi fácil. Porque o WH-1000XM4 continua sendo uma aula de equilíbrio, sofisticação e recursos inteligentes. Ele sabe fazer tudo muito bem, mesmo sem fazer alarde. E ainda hoje, anos depois, coloca muita marca nova no chinelo.
Mas… o ULT WEAR surpreende. Ele é direto, divertido, emocional. Faz você sentir a música como se estivesse numa pista de dança, mesmo dentro do comboio ou do elevador. Não tenta ser perfeito — tenta ser intenso.
E nesse jogo de extremos, o ULT WEAR acaba ganhando. Porque tem mais personalidade, mais ousadia, mais impacto. Mesmo sendo tecnicamente inferior em alguns pontos, ele entrega algo que o WH-1000XM4 não entrega: emoção crua.
Se você quer sentar, fechar os olhos e analisar cada detalhe da mixagem, o WH-1000XM4 vai te levar longe. Mas se você quer viver a música no volume máximo, sem cerimônia, com batidas que mexem no corpo inteiro… aí não tem nem discussão.
O ULT WEAR não é só mais um auscultador. É uma experiência. Mesmo que às vezes ele exagere. E talvez seja exatamente isso que a gente andava procurando.


