Quando você já está entre os melhores do mercado, qualquer passo seguinte vira uma decisão arriscada. E foi exatamente isso que a Sony fez ao lançar os WH-1000XM5, como sucessores diretos do WH-1000XM4, que até hoje são referência quando se fala em auscultadores com cancelamento de ruído. A pergunta que não quer calar? Será que o modelo novo entrega melhorias concretas ou só mudou o visual?
A gente testou os dois lado a lado, em diferentes situações: rua, casa, transporte público, viagens longas, chamadas de vídeo. E olha, as diferenças estão lá, mas nem sempre onde você espera. Se você está prestes a investir — ou trocar — é bom saber o que de fato muda na prática.
Vamos entrar nos detalhes que importam: do design à qualidade de som, da bateria à portabilidade. Porque no fim das contas, não é sobre o que parece melhor no papel — é sobre o que funciona melhor no seu dia a dia.
Um novo visual… com uma consequência inesperada
A primeira coisa que salta aos olhos é o design. O XM5 chega com linhas mais suaves, mais “clean”, mais futuristas, quase como se quisesse ser confundido com um objeto de decoração. A haste fininha, o corpo mais liso e o acabamento fosco passam uma sensação de modernidade que o XM4 nunca tentou ter.
Só que essa escolha visual teve um custo: o XM5 não dobra mais. Sim, você leu certo. Ele vem com um estojo maior, fixo, e exige mais espaço na mochila ou na mala. Não é o fim do mundo, mas se você está acostumado com a praticidade dos XM4 — que dobram direitinho pra caber em qualquer canto — pode sentir falta.
Além disso, os drivers mudaram: o XM5 tem 30 mm contra os 40 mm do XM4. Isso pode impactar o conforto para quem tem orelhas maiores, já que as conchas novas têm um encaixe diferente, menos acolchoado e menos espaçoso.
No visual, o XM5 impressiona. Mas em termos de portabilidade e sensação de aconchego nas orelhas, o XM4 ainda leva a melhor.
A bateria continua impecável — com ou sem truques
Se você estava esperando grandes mudanças na autonomia, esquece. A Sony manteve os mesmos 30 horas com o cancelamento de ruído ligado nos dois modelos, e com o modo desligado, o XM5 ganha só dois minutinhos a mais que o XM4 — nada que vá mudar sua vida.
O tempo de recarga também é quase igual: 3 horas e meia no XM5 contra 3 horas no XM4. Ambos têm carregamento rápido, que dá várias horas de música com só 10 minutos na tomada. E sim, nos nossos testes, os dois aguentam tranquilamente um dia inteiro de trabalho, com reuniões, pausas, música de fundo, vídeos e chamadas.
Se o que você quer é fone que aguente sem apitar no meio do dia, qualquer um dos dois dá conta. Nenhum dos dois decepciona.
Bluetooth 5.2… mas você vai sentir diferença?
O XM5 vem com Bluetooth 5.2, o XM4 tem Bluetooth 5.0. E aí você pensa: pronto, o novo deve ser muito mais estável. Mas na prática? A diferença é quase imperceptível. Ambos se conectam rapidamente, raramente apresentam falhas e mantêm a conexão mesmo se você andar pelo ambiente com o celular longe.
O XM5 tem o Fast Pair, que agiliza o emparelhamento com Android, e isso é legal. Só que, sinceramente, isso acontece uma vez — e pronto. Não é uma função que você usa sempre. Ambos têm multiponto, então você pode estar conectado ao PC e ao celular ao mesmo tempo — e isso sim é útil de verdade.
Na prática, os dois funcionam bem e fazem o que prometem. O XM5 tem melhorias técnicas, mas o XM4 continua impecável em conectividade.
E o som? Continua ótimo — e surpreendentemente parecido
Essa parte é quase injusta com o XM5. Porque sim, ele soa muito bem. Mas o XM4 já era excelente. E o novo modelo não dá um salto perceptível em qualidade sonora. Mudaram o driver, mudaram o design interno, mas a assinatura sonora se manteve.
Graves encorpados, médios claros, agudos bem equilibrados. A Sony continua entregando um som quente, envolvente, com boa definição mesmo em volumes mais altos. O DSEE Extreme ajuda a recuperar detalhes perdidos em arquivos comprimidos, e o 360 Reality Audio funciona bem com plataformas compatíveis.
Se você esperava um novo nível de qualidade, vai ficar esperando. O XM5 soa muito parecido com o XM4. E isso não é ruim — mas também não é evolução.
Cancelamento de ruído: promete mais, entrega quase igual
Aqui a Sony tentou dar um salto, com um novo processador dedicado exclusivamente ao cancelamento no XM5. E sim, o cancelamento de ruído é excelente — mas o do XM4 já era. E quando comparamos lado a lado, o que percebemos foi o seguinte:
Ambos eliminam ruídos constantes com maestria — motores, ar-condicionado, barulho de rua. O XM5 talvez vá um pouco além em ruídos mais variáveis, como vozes ao fundo ou sons de teclado, mas não é uma diferença gritante. Se você está em um ambiente ruidoso, qualquer um dos dois vai te isolar muito bem.
O modo ambiente e o Speak to Chat funcionam igual nos dois, e são recursos úteis, mas não perfeitos. Às vezes o fone acha que você está falando só porque tossiu — e pausa tudo.
A evolução no cancelamento é mais marketing do que prática. O XM4 já faz um trabalho incrível e continua entre os melhores do mercado.
Leveza ou conforto? Porque não dá pra ter os dois
O XM5 é mais leve, mais moderno e tem um toque mais suave. Mas aí entra o porém: as almofadas são mais rasas, o acolchoamento da haste é menor e o encaixe é menos generoso. Isso não significa que ele seja desconfortável — longe disso — mas depois de muitas horas, você sente que o XM4 é mais acolhedor, mais “abraço” mesmo.
Se você vai usar o fone por períodos curtos ou está sempre de um lado pro outro, o XM5 agrada. Mas se trabalha o dia todo com ele na cabeça, como a gente fez, o XM4 se mostrou mais confortável ao longo do tempo. E ainda dobra — o que, de novo, faz falta.
O XM5 é leve e bonito, mas o XM4 abraça a cabeça de um jeito que o novo modelo ainda não conseguiu imitar.
Chamadas: ainda o ponto fraco dos dois
É aqui que a Sony ainda patina. As chamadas são decentes, mas longe do ideal. Em ambientes silenciosos, a voz sai clara e limpa. Mas colocou vento, carro passando ou gente conversando por perto, e pronto: a qualidade cai.
O XM5 tenta melhorar com mais microfones e processadores extras, mas a diferença é mínima. Quem usa fone pra trabalhar com chamadas longas ou reuniões o tempo todo pode se decepcionar com os dois.
Ainda é um ponto a melhorar — e não é pequeno.
E aí, vale trocar?
Se você tem o XM4, não tem motivo real pra correr pro XM5. A menos que o visual novo te conquiste ou você queira ter o modelo mais recente por pura vontade — o que é válido também.
O som é o mesmo, o cancelamento de ruído é quase igual, a bateria continua excelente e o XM4 ainda dobra e é mais confortável por longos períodos. O XM5 tem vantagens pontuais, mas nada que transforme a experiência.
Pra quem está comprando agora, o XM4 costuma custar menos e entrega praticamente tudo que o XM5 oferece, com bônus de praticidade. Já pra quem valoriza design, leveza e não se incomoda em carregar um estojo maior, o XM5 é sim um baita produto — só não é um salto.
A Sony fez um fone novo — mas não fez um novo patamar. E às vezes, a melhor escolha continua sendo aquela versão anterior que já fazia tudo certo.