Quando a gente resolve investir num headset de realidade virtual, a dúvida que bate não é só técnica — é emocional. A sensação que dá é que estamos escolhendo uma extensão do nosso jeito de viver o digital. E não dá pra negar: o Meta Quest 3 e o Pico 4 Ultra são os dois nomes que dominam essa categoria intermediária, cada um com sua proposta, seu ecossistema e seus pecados.
O Meta vem com o peso da tradição e de um sistema que funciona, ponto. Já o Pico corre por fora com um hardware parrudo e ideias ousadas, tentando chamar atenção com números e promessas. O Quest 3 já chegou com tudo pronto, enquanto o Pico 4 Ultra parece ainda estar moldando seu lugar nesse jogo.
Mas e aí, na prática? Onde cada um brilha e onde tropeça? A gente mergulhou fundo nos dois modelos pra te contar tudo. E olha, tem muita coisa pra pesar antes de escolher.
Design e construção: leveza que faz diferença real

Você só entende o que significa um headset de 580g no rosto depois de 30 minutos com ele. E não, isso não é um detalhe. O Meta Quest 3 tem 515g bem distribuídos, com um centro de gravidade que alivia a testa e o nariz. Essa leveza ajuda muito em sessões longas, principalmente em jogos com mais movimento ou experiências que exigem foco visual constante.
Já o Pico 4 Ultra, mesmo com seus 580g, tenta compensar com uma armação ajustável mais firme. O design frontal mais largo permite o uso com óculos com mais conforto, e isso é um ponto super positivo pra quem, como a gente, não abre mão da correção visual no VR.
O acabamento geral dos dois é ótimo, mas aqui vai um ponto incômodo: o Pico não inclui uma interface facial de silicone, o que torna a limpeza mais trabalhosa e o contato com a pele menos agradável. Pode parecer bobagem, mas é o tipo de coisa que começa a incomodar com o tempo — suor, oleosidade e uso contínuo cobram seu preço.
Tela e imersão visual: nitidez ou fluidez?
À primeira vista, as telas dos dois headsets parecem parecidas. E até são. Mas os detalhes fazem diferença, principalmente pra quem é mais sensível à qualidade de imagem. O Pico 4 Ultra oferece 2.160 x 2.160 pixels por olho, contra 2.064 x 2.208 pixels do Quest 3. Ou seja, temos mais nitidez lateral no Pico e mais definição vertical no Meta.
Mas a história muda quando olhamos pro campo de visão. O Meta Quest 3 entrega 110° na horizontal e 96° na vertical, enquanto o Pico fica nos 105° na horizontal. Esse extra cria uma sensação de “mundo mais aberto”, como se o ambiente virtual se estendesse com mais naturalidade ao nosso redor.
Outro ponto crítico é a taxa de atualização. O Meta Quest 3 suporta até 120Hz, enquanto o Pico 4 Ultra se limita a 90Hz. Essa diferença pesa bastante em jogos mais rápidos, como títulos de tiro ou esportes — é aquele tipo de fluidez que a gente só percebe quando sente falta.
Potência e desempenho: mais RAM não garante vantagem

No papel, o Pico chega com mais força. São 12GB de RAM contra 8GB do Quest 3, e 256GB de armazenamento como padrão, enquanto o Meta oferece versões de 128GB e 512GB. Parece uma goleada, mas é aí que entra a questão do sistema operacional.
O HorizonOS, presente no Quest 3, é mais refinado e estável, extraindo mais do mesmo processador Snapdragon XR2 Gen 2. Isso equilibra o jogo e até dá vantagem ao Meta em fluidez no uso diário, mesmo com menos memória.
O Pico responde com mais fôlego pra multitarefa. Ele consegue abrir até 8 janelas simultâneas, contra 6 do Meta Quest 3. Mas a pergunta é: você vai usar isso de fato? O sistema da Pico ainda carece de apps otimizados e não tira todo o proveito dessa capacidade extra.
No uso prático, o desempenho dos dois é bastante similar. O que pesa, de novo, é o ecossistema. Não adianta ter mais potência se o sistema ainda está engatinhando.
Realidade mista: visual bonito ou experiência coesa?

Aqui as coisas ficam mais subjetivas. O Pico 4 Ultra aposta em duas câmeras externas de 32MP e entrega um passthrough com cores mais vivas e maior definição. Quando você ativa a realidade mista, o ambiente real parece mais vivo.
Mas… nem tudo são flores. A imagem do Pico sofre com distorções nas bordas, criando uma sensação meio esquisita nos cantos. Em alguns momentos, parece que estamos olhando através de uma lente molhada — nada que quebre a experiência, mas que incomoda.
O Meta Quest 3, por outro lado, entrega uma imagem mais neutra, com menos cores mas também com menos aberrações. E com as últimas atualizações do HorizonOS, a qualidade melhorou consideravelmente. Pode não ter a mesma nitidez do Pico, mas é mais estável.
Nenhum dos dois chega perto da fidelidade do mundo real, mas o Pico ainda sai levemente na frente pela qualidade geral da imagem, mesmo com seus defeitos.
Software e catálogo: aqui não tem discussão
Essa parte é quase injusta. O Meta Quest 3 domina completamente o quesito software. A loja da Meta é recheada de títulos exclusivos, enquanto o Pico tenta correr atrás, mas com fôlego curto.
Você até encontra títulos multiplataforma no Pico, mas falta o peso de nomes como Beat Saber, Resident Evil 4 VR, Asgard’s Wrath 2, Assassin’s Creed Nexus e Just Dance VR. E o golpe final? A integração do Quest com o Xbox Cloud Gaming. É outra liga.
O catálogo da Meta não é só maior — é mais inteligente, mais maduro. Os apps foram pensados pro headset, com uma fluidez e uma integração que simplesmente não existem no Pico.
Enquanto isso, o Pico parece um convidado tentando dançar num baile que não foi feito pra ele. Ele tem potencial, mas falta conteúdo que te faça querer ficar.
Funcionalidades extras: inovação ou firula?

O Pico tenta brilhar com diferenciais. E em parte, consegue. Os Motion Trackers são o principal destaque: sensores externos que rastreiam os pés, permitindo experiências com corpo inteiro. É um conceito incrível — e funciona bem.
Mas tem um porém: eles são vendidos à parte. E não são baratos. Isso limita o uso real da função, que acaba virando algo restrito a bundles especiais ou usuários muito entusiastas.
Outro “extra” do Pico é a câmera para fotos e vídeos espaciais. Legal? Até é. Mas a qualidade é mediana e o uso pouco prático. É mais uma curiosidade do que um diferencial real.
O Meta Quest 3 não aposta tanto em novidades chamativas, mas entrega tudo que promete de forma consistente. Talvez ele não impressione tanto na primeira olhada, mas é o tipo de headset que você entende com o tempo. Sem truques.
Conclusão: o Quest 3 acerta onde importa
No papel, o Pico 4 Ultra parece mais potente. Mais RAM, mais armazenamento, sensores melhores, ideias inovadoras. Mas quando colocamos tudo em uso, a história muda.
O Meta Quest 3 entrega uma experiência mais coesa, mais madura e mais divertida. Ele não depende só de especificações. Ele entrega jogos, estabilidade, fluidez — tudo aquilo que a gente espera de um produto pronto.
O que mais nos surpreendeu foi perceber como o sistema da Meta consegue extrair tanto de um hardware que, na teoria, é inferior. Isso mostra o quanto um ecossistema bem construído faz diferença.
Já o Pico 4 Ultra decepciona um pouco nesse ponto. Ele tem potencial, sim. Mas a sensação é de que ainda está em fase beta, esperando por atualizações, jogos, suporte.
Se você está procurando o melhor headset VR intermediário hoje, não tem por que complicar: o Meta Quest 3 é a escolha mais certa. O Pico pode crescer, claro. Mas ainda está longe de ser uma ameaça real.
E cá entre nós, ninguém quer gastar tanto dinheiro pra virar beta tester de luxo.


