Tem gente que encara relógio como acessório. Tem gente que vê como ferramenta. E tem quem queira os dois. No confronto entre o Garmin Fenix 8 e o Apple Watch Ultra 2, a linha que separa estilo e performance fica mais tênue do que nunca.
De um lado, temos um relógio que parece ter saído direto da mochila de um alpinista. Do outro, um dispositivo com cara de centro de comando de ficção científica, mas que vibra no pulso com cada notificação do iPhone. O Fenix 8 é praticamente um exército de métricas, sensores e modos de treino. O Ultra 2 é um híbrido poderoso que tenta equilibrar função e forma.
A pergunta que importa é: o que você espera de um smartwatch? Porque o que esses dois oferecem é diferente em essência. Um mergulha de cabeça no universo outdoor. O outro aposta no conforto do cotidiano hiperconectado. E é justamente por isso que a comparação faz sentido — porque ninguém quer errar na escolha quando o investimento é tão alto.
Design e construção: dois pesos, dois estilos

Basta olhar para os dois no pulso para entender que eles foram pensados para pessoas diferentes.
O Garmin Fenix 8 mantém a identidade clássica, com mostrador redondo e três tamanhos — 43 mm, 47 mm e 51 mm — que agradam desde quem tem pulso fino até quem quer presença de verdade no braço. O corpo, dependendo da versão, pode ser de aço ou titânio, com vidro de safira protegendo a tela. Ou seja: é feito pra cair no chão, bater em pedra e continuar funcionando.
O Apple Watch Ultra 2, por sua vez, não tenta parecer um relógio convencional. Ele é quadrado, grandalhão e único no tamanho: 49 mm. A caixa de titânio e o vidro de safira são robustos, mas o visual é mais “techwear” do que “aventura raiz”. A coroa digital, somada aos dois botões físicos, facilita o uso até com luvas ou mãos molhadas.
Ambos aguentam água com tranquilidade — são feitos para mergulhos de até 40 metros. Mas o Fenix 8 traz um detalhe curioso e útil: uma lanterna embutida com vários níveis de brilho e luz vermelha para ambientes escuros. Pode parecer bobagem… até a primeira trilha noturna.
Na tela, o Ultra 2 impressiona com seu brilho Retina OLED, colorido, vibrante, visível sob sol forte. O Fenix 8 também evoluiu com tela AMOLED, mas ainda assim, o sistema da Apple explora muito melhor a qualidade visual com ícones, menus e mostradores mais dinâmicos.
Bateria: maratona ou pit stop?
É aqui que a conversa muda de tom — e muda feio.
A autonomia do Garmin Fenix 8 é absurda. Mesmo o modelo menor consegue passar de uma semana com facilidade. O maior (51 mm), com tela sempre ligada, ultrapassa 12 dias de uso. E isso usando GPS, sensores ativos, notificações. Sem economia forçada.
O Apple Watch Ultra 2? Dois dias com esforço. Três, se você desligar metade das funções. Em GPS contínuo, ele dura 12 horas com tudo ativado, ou até 35 horas no modo de baixo consumo — que reduz a frequência dos sensores e sacrifica um pouco a precisão.
Se a ideia é fazer trilhas longas, viajar sem levar carregador, ou treinar vários dias seguidos sem parar pra carregar, o Ultra 2 simplesmente não dá conta. É aquela história: quem usa o Fenix esquece que o relógio precisa de tomada.
Recursos esportivos: profundidade ou praticidade?

Ambos têm modos de treino. Ambos medem frequência cardíaca, saturação de oxigênio, VO2 máximo. Mas aí você começa a entrar nos detalhes… e a diferença fica clara.
O Apple Watch Ultra 2 oferece rastreamento para diversas atividades — corrida, natação, ciclismo, musculação, HIIT, yoga… Ele tem GPS multibanda, ótimo sensor cardíaco, integração com o app Exercício do iPhone e suporte para apps de terceiros como TrainingPeaks.
Ah, e trouxe agora o recurso de “carga de treino”, comparando esforço recente com a média anterior. Parece avançado? É. Mas…
O Fenix 8 joga em outra liga. Ele oferece métricas como foco aeróbico e anaeróbico, carga aguda, estimativas de performance, Prontidão para Treino, tempo de recuperação, e até sugestão de exercícios baseada nos dados do sono, estresse e recuperação. Tudo dentro do relógio, sem depender de app externo.
Se você treina sério, quer evoluir e entender seu corpo com precisão, o Fenix não apenas entrega mais — ele fala a sua língua. Já o Ultra 2 tenta se aproximar, mas exige muito ajuste manual e depende fortemente do ecossistema de apps. Ele é ótimo pra quem quer monitorar o treino. O Fenix é pra quem quer planejar o próximo.
Funções de smartwatch: aí a Apple brilha
Aqui não tem briga. A Apple domina.
O Watch Ultra 2 é praticamente um iPhone de pulso. Você atende ligações, responde mensagens por voz ou texto, acessa apps direto no relógio, usa Apple Pay, vê fotos, toca música, recebe todas as notificações. A fluidez do sistema, a integração com o iPhone, o ecossistema de apps… nada chega perto.
O Fenix 8 tem suporte para notificações, chamadas, streaming offline de músicas (Spotify, Deezer, Amazon), pagamentos com Garmin Pay. Mas tudo mais restrito, com apps visivelmente mais simples, menos bonitos, e uma navegação menos intuitiva.
Se o que você quer é um smartwatch completo, que te avisa do Uber chegando enquanto você troca o tênis, o Ultra 2 é insuperável. O Fenix tenta, mas ainda é um relógio esportivo com funções inteligentes — e não o contrário.
Mapas e navegação: quem conhece o caminho?

Esse ponto é crucial pra quem vai além da esteira da academia.
O Apple Watch Ultra 2 agora permite baixar mapas offline. Dá pra criar rotas e seguir orientações curva a curva. Mas na prática, você ainda precisa alternar entre apps diferentes pra treinar e ver o mapa ao mesmo tempo — o que é um tanto incômodo durante a atividade.
O Garmin Fenix 8 é um mestre da navegação. Ele mostra trilhas, curvas, subidas e descidas com destaque via ClimbPro, e tem rotas automáticas de volta ao ponto de origem. Tudo dentro da tela do treino. E o GPS com satélites múltiplos ajusta automaticamente o melhor sinal, otimizando consumo e precisão.
É o tipo de funcionalidade que muda completamente uma corrida em lugar desconhecido. O Ultra 2 até tenta acompanhar, mas a experiência de navegação do Fenix é muito mais madura.
Compatibilidade: fechado ou aberto?
Talvez você nem pense nisso na hora da compra, mas deveria.
O Apple Watch Ultra 2 só funciona com iPhone. Exclusivamente. Ponto. Não tem conversa.
O Garmin Fenix 8 funciona tanto com Android quanto com iOS. Isso não só te dá liberdade de troca, como também facilita a vida em família — quem nunca emprestou um relógio ou celular?
Se você está no ecossistema da Apple e pretende continuar, beleza. Mas se há chance de mudar no futuro, o Ultra 2 pode te amarrar onde você não quer.
Personalização: você no controle?

Esse é um tema curioso.
O Apple Watch permite mudar mostradores, ajustar zonas de treino, configurar esforço manualmente. A App Store tem centenas de mostradores, complicações e interfaces que deixam o relógio com a sua cara. É como trocar de roupa todo dia.
O Fenix 8 é mais pragmático. Os mostradores são mais técnicos, menos “instagramáveis”, mas os campos de treino são profundamente configuráveis. Você decide o que aparece, como aparece, quando aparece. O foco não é o estilo, é a funcionalidade.
No fim das contas, o Ultra 2 te deixa criar a aparência que quiser. O Fenix 8 ajusta os dados como você precisa.
Conclusão: Garmin Fenix 8 vence sem fazer esforço
A gente poderia terminar esse texto com uma frase de efeito. Mas não precisa.
Se a sua prioridade é esporte, performance, autonomia e navegação, o Garmin Fenix 8 entrega mais. Ponto. Ele é técnico, profundo, confiável. Não tem firula, não tem distração. É relógio de quem treina com planilha, sobe montanha com GPS e não quer depender de sinal de celular.
O Apple Watch Ultra 2 é elegante, esperto, multifuncional. Serve pra trabalhar, correr, responder mensagem, pagar o café e ainda te lembrar de beber água. Mas quando o assunto é esporte pesado, ele fica um passo atrás.
É como comparar uma SUV de luxo com um 4×4 bruto. Os dois vão longe — só que por caminhos diferentes.
E às vezes, o caminho é de terra, lama, subida e silêncio. Aí… só o Fenix acompanha.


