Tem gente que troca de smartwatch como quem troca de tênis. Mas tem também quem espera aquele modelo certo, com a combinação perfeita de desempenho, estilo e confiabilidade. E aí, quando surgem dois gigantes como o Apple Watch Ultra 2 e o Samsung Galaxy Watch Ultra, o dilema fica sério. Ambos são grandes, bonitos, musculosos. E cada um puxa pra um lado bem diferente da força.
De um lado, o Apple Watch Ultra 2 é aquele que parece saber exatamente o que você vai fazer antes mesmo de você decidir. Do outro, o Galaxy Watch Ultra tenta te impressionar com uma lista de funções que quase parece infinita — mas nem sempre fluem como deveriam.
A proposta é semelhante, mas a execução… ah, essa muda tudo. Vamos explorar as diferenças reais — da ergonomia aos sensores, da bateria ao jeito de mexer.
Casca grossa e jeitos muito diferentes de navegar

Que os dois são grandes e resistentes, ninguém discute. Mas dá pra sentir que cada um carrega uma personalidade bem definida no pulso. O Apple Watch Ultra 2 tem caixa de 49 mm, toda em titânio, com uma estética limpa e muito funcional. Já o Galaxy Watch Ultra traz 47 mm, também com visual robusto, mas com um ar mais esportivo e multifacetado.
A sensação no braço é parecida. Eles são surpreendentemente confortáveis pra quem tem o pulso médio ou grande, inclusive durante o sono. Mas tudo muda na hora de mexer.
O Apple aposta numa combinação bem inteligente: Coroa Digital giratória, botão lateral e o tal Botão de Ação. Você consegue acessar tudo com precisão, mesmo com luvas ou com os dedos molhados. Nada de depender só da tela.
No Galaxy, o botão parecido com coroa não gira. A navegação é quase toda pelo toque — e isso pode ser um problema em trilhas molhadas ou atividades mais intensas. Pra quem estava acostumado com o aro giratório dos Galaxy antigos, a ausência é sentida.
Ambos têm telas absurdamente brilhantes, com pico de 3.000 nits, o que garante legibilidade até debaixo de sol rachando. Mas o Apple ainda tem um aproveitamento um pouco maior do display, com interface que parece mais pensada pra essa tela maior.
Sistemas operacionais: um é afinado, o outro versátil (mas mais bagunçado)
A experiência de usar um relógio inteligente não está só na tela ou no botão. Ela vive no sistema. O Apple Watch Ultra 2 roda o watchOS, que é fluido, limpo, estável, e já parece estar no seu décimo rascunho final.
O Galaxy vem com o Wear OS 5 modificado pela interface One UI Watch 6. É bonito, é prático para quem já usa Samsung, mas… ainda dá umas engasgadas. E há momentos em que você sente que o sistema está tentando acompanhar a corrida sem fôlego.
Um detalhe curioso: os dois têm gestos com os dedos para acionar funções sem tocar na tela. No Apple, o gesto “Toque Duplo” funciona bem com ações como atender chamadas, pausar música, iniciar cronômetro. No Galaxy, o “Duplo Beliscão” existe, mas funciona de maneira mais limitada e menos confiável, especialmente com apps de terceiros.
E no longo prazo? O Apple promete o novo app “Vitals” no watchOS 11, reunindo dados fisiológicos em um painel unificado. Atualizações regulares são garantidas por anos. O Galaxy também promete atualizações, mas sempre com aquele “se” que acompanha o Android.
Saúde e esportes: dados confiáveis ou variedade de sensores?

Os dois modelos se vendem como relógios pra quem leva o corpo a sério. E, de fato, entregam bastante.
O Apple Watch Ultra 2 impressiona pela consistência das medições. Batimentos, sono, oxigenação, temperatura da pele, variabilidade cardíaca… tudo funciona como um relógio (literalmente). É quase como ter um Oura Ring, um monitor cardíaco e um personal trainer no mesmo pulso.
Ele também vai bem em trilhas: tem GNSS de dupla frequência, mapas com instruções passo a passo, métricas de treino avançado e até medição de carga.
O Galaxy Watch Ultra tenta responder com uma enxurrada de sensores: pressão arterial, ECG, composição corporal, apneia do sono… Mas tem pegadinha. Muitos desses recursos só funcionam se o relógio estiver emparelhado com um celular Samsung.
A gente testou. E mesmo com um Galaxy S, as medições de SpO2 e composição corporal ainda oscilam. A leitura de gordura e massa magra, por exemplo, muda demais em intervalos curtos. E a tal análise de estresse? Pouco útil e difícil de interpretar.
No geral, o Apple acerta mais pela consistência. O Galaxy tenta acertar com quantidade.
Bateria: diferença pequena, mas existe

Não adianta nada ter um super relógio se ele morre antes do fim do treino. E nesse ponto, a diferença entre eles é mais de estabilidade do que de duração bruta.
O Apple Watch Ultra 2 costuma durar cerca de três dias com uso normal, incluindo GPS, notificações, tela sempre ativa e monitoramento de saúde. Dá pra fazer trilha, dormir, acordar e ainda ter bateria pro dia seguinte.
O Galaxy Watch Ultra entrega dois dias e meio — às vezes menos. O problema maior não é o tempo em si, mas a inconsistência. Em alguns dias ele drena a bateria 30% mais rápido, mesmo com uso parecido. A Samsung ainda está calibrando isso.
Na recarga, o Apple também é mais rápido: vai de 0 a 100% em cerca de 1h30. O Galaxy leva quase 2 horas.
Compatibilidade: dois mundos que não se falam
Não tem como fugir disso. O Apple Watch Ultra 2 só funciona com iPhone. Ponto. Já o Galaxy Watch Ultra funciona com qualquer Android — mas só entrega tudo mesmo se estiver pareado a um Galaxy.
É uma divisão clara. E que, na prática, impede qualquer tentativa de migrar entre plataformas mantendo o relógio.
Ou seja: se você tem um iPhone, nem adianta pensar no Galaxy Watch Ultra. E se tem um Android de outra marca que não seja Samsung… bom, o Galaxy vai funcionar, mas não com tudo que ele promete.
Detalhes que pesam mais do que parecem

Tem pequenos recursos que não aparecem nas listas, mas mudam completamente a experiência.
No Apple Watch Ultra 2, a sirene de emergência embutida é um desses casos. Um detalhe de segurança que, em ambientes remotos, pode ser decisivo. O sistema de mergulho com medição de profundidade também é um plus pra quem pratica atividades aquáticas.
O Galaxy Watch Ultra, por outro lado, aposta em versatilidade estética. Vem com mais opções de cores, combina com mais tipos de pulseira, e o encaixe na maioria dos pulsos é mais confortável. Pra quem se importa com visual, ele pode parecer mais “vestível”.
Mas aí vem o porém: a quantidade de recursos que não funcionam direito (ou só funcionam com celular Samsung) diminui muito esse brilho.
E aí, quem vence essa disputa de titãs?
A verdade é que, tirando o visual e o tamanho parecidos, o Apple Watch Ultra 2 e o Galaxy Watch Ultra vivem em universos diferentes.
O Apple Watch Ultra 2 entrega uma experiência mais redonda, mais confiável e mais refinada. Tudo nele parece pensado com cuidado, desde o botão de ação até a forma como os dados de saúde aparecem. É como usar uma ferramenta de precisão, feita sob medida pra quem quer controle total.
O Galaxy Watch Ultra tenta compensar com variedade. E acerta em vários pontos: o design é legal, o sistema de sensores é ambicioso, e quem já está no ecossistema Samsung vai conseguir aproveitar bastante. Mas… falta consistência.
Falta aquele “funciona sempre” que o Apple entrega. Falta um sistema mais fluido. Falta a confiança de que os dados estão certos.
Então sim — mesmo que seja uma briga de pesos-pesados, o Apple Watch Ultra 2 sai como o mais completo. Ele não tenta ser tudo pra todo mundo. Ele escolhe um caminho — e vai até o fim. E talvez por isso, acerte tanto.


