Se você treina com seriedade, já sabe: o relógio esportivo certo pode transformar completamente sua rotina. Mas escolher entre dois modelos da mesma marca — criados com públicos distintos em mente — exige atenção redobrada. De um lado, o Amazfit Falcon, pesado, resistente, feito pra aguentar pancada. Do outro, o Amazfit Cheetah Pro, mais leve, inteligente, com foco em performance e tecnologia. Ambos prometem navegação offline, métricas avançadas e autonomia sólida. Mas será que entregam isso tudo com o mesmo equilíbrio?
A proposta é a mesma, mas o caminho até ela não poderia ser mais diferente. Vamos mergulhar nos detalhes que realmente importam na prática — porque, no fim, é isso que separa um bom companheiro de treino de um enfeite caro no pulso.
Construção e uso físico: onde a diferença já pesa no braço

Basta colocar um no pulso e o outro na outra mão pra sentir o contraste. O Falcon é imponente, com corpo de titânio e vidro de safira, o que o torna muito mais pesado — mas também virtualmente indestrutível. Dá aquela sensação de que você pode encarar uma trilha com chuva, lama e galhos sem medo.
Já o Cheetah Pro é mais leve, com polímero de alta resistência e o mesmo vidro de safira, mas com pegada mais urbana. As bordas finas da tela deixam o visual mais limpo e moderno, quase discreto, mas sem perder o ar esportivo.
Na navegação, o Falcon tem quatro botões físicos, que funcionam mesmo com luvas ou dedos suados. O Cheetah, por outro lado, aposta em uma coroa giratória e tela sensível ao toque, com interface mais visual. Dois estilos de uso completamente distintos — e que podem incomodar ou encantar dependendo do seu tipo de treino.
Qualidade da tela e uso sob sol forte: AMOLED sem drama
Ambos trazem tela AMOLED com brilho forte, contraste impecável e boa resposta em qualquer condição de luz. Se você corre ao meio-dia ou pedala ao nascer do sol, a legibilidade continua excelente.
A principal diferença é sutil: o Cheetah Pro tem melhor aproveitamento da área útil, com bordas mais finas e interface um pouco mais moderna visualmente. Nada que transforme a experiência, mas faz parecer que o sistema foi pensado com mais carinho.
Os dois oferecem brilho automático, modos noturnos e filtros para notificações — e cumprem bem esse papel. Se você se irrita com relógios que iluminam tudo no cinema ou vibram no meio da noite, pode ficar tranquilo.
Microfone, voz e som: o Cheetah Pro escuta e responde
Aqui, o jogo vira. O Cheetah Pro tem microfone e alto-falante embutidos, o que permite comandos por voz, notificações sonoras e até feedbacks de treino falados — direto no pulso. Dá pra começar um treino dizendo “iniciar corrida” e ouvir os avisos de ritmo ou batimento sem precisar encostar em nada.
O Falcon não tem microfone, nem som direto — só funciona com fones Bluetooth. Ou seja: se quiser ouvir qualquer coisa, precisa estar com fones conectados. Isso limita bastante a fluidez, especialmente em treinos onde você quer rapidez e foco.
Música offline: funcionalidade ou complicação?
Ambos prometem música sem celular, mas a execução é bem diferente.
No Falcon, a transferência de músicas acontece só por cabo, conectando ao computador. Ele aparece como um pendrive, e você arrasta os arquivos MP3. Simples, mas antiquado. E só funciona com fones Bluetooth — o alto-falante não reproduz nada.
O Cheetah Pro permite transferência por Wi-Fi ou cabo, com organização de playlists direto pelo app. E o mais interessante: dá pra ouvir as faixas pelo alto-falante do relógio, sem fone nenhum. Um diferencial que parece pequeno, mas no dia a dia é enorme.
Nenhum dos dois tem integração com Spotify ou Deezer — ainda estamos longe disso nos Amazfit. Mas pelo menos o Cheetah torna a experiência menos limitada.
Mapas e navegação: quando o terreno exige mais que uma linha
Ambos têm navegação com mapas offline e suporte a arquivos GPX — o que já coloca os dois à frente da maioria dos relógios da categoria. Mas os detalhes importam.
O Falcon permite abrir o mapa a qualquer momento, mesmo sem estar seguindo uma rota. Você pode dar zoom, girar, visualizar trilhas, rios e ruas mesmo só explorando. Ideal pra quem se aventura sem roteiro fixo.
Já o Cheetah Pro só exibe o mapa quando há uma rota ativa carregada. Isso limita um pouco a usabilidade em passeios livres ou explorações mais espontâneas.
Visualmente, os dois são bem parecidos: coloridos, detalhados e com resposta rápida ao toque ou botões.
Dados de treino, sensores e análise: empate técnico — quase
Ambos têm o pacote completo: GPS multi-band, frequência cardíaca, SpO2, bússola, altímetro barométrico, acelerômetro e giroscópio. A precisão do GPS é excelente em ambos — testamos em cidade, floresta e até túnel, e os dois se mantiveram firmes.
Durante os treinos, as métricas oferecidas são praticamente as mesmas: cadência, zonas de esforço, VO2 Max estimado, análise de carga, tempo de recuperação… Tudo com gráficos e feedbacks claros.
Mas o Cheetah Pro dá um passo à frente nos detalhes: oferece feedbacks sonoros, comandos de voz para iniciar ou pausar treinos e avisos de ritmo direto no alto-falante. O Falcon exige navegação pelos botões — o que pode funcionar melhor em trilhas, mas é menos ágil no asfalto.
Saúde e rotina: pequenas vantagens fazem diferença

Os dois monitoram sua vida fora dos treinos também: frequência cardíaca em repouso, estresse, sono, SpO2 e até nível de atividade ao longo do dia. Alarmes silenciosos, modos de descanso e registro automático de exercícios também estão presentes.
A diferença? O Cheetah Pro tem despertador inteligente. Ele detecta o melhor momento para acordar dentro de uma janela e vibra de forma mais sutil. O Falcon só oferece alarme fixo e tradicional.
Na piscina, o Falcon surpreende: possui sistema de ejeção de água pelo alto-falante, como alguns relógios topo de linha. É um detalhe técnico que mostra o foco em esportes de resistência. O Cheetah Pro não tem esse recurso.
Interface e uso cotidiano: toque moderno ou botões confiáveis?
Ambos usam o mesmo sistema da Zepp, mas com pequenas diferenças na fluidez e visual. O Cheetah Pro leva vantagem nas animações, design dos ícones e transições suaves. A interface é mais bonita, mais clara.
O Falcon aposta mais na funcionalidade pura: menus objetivos, respostas rápidas aos botões e acesso direto às configurações essenciais. Ideal pra quem não liga pra estética e só quer desempenho.
Nos dois casos dá pra ativar modo avião, modo teatro, ajustar brilho automático e personalizar a tela principal com dados como batimentos, passos, previsão do tempo, etc.
Autonomia de bateria: ninguém passa aperto
Ambos aguentam tranquilamente mais de uma semana com uso regular. O Falcon chega perto dos 14 dias se você não exagerar nos treinos longos com GPS. O Cheetah Pro segura bem 10 dias com tudo ativado, incluindo voz e brilho automático.
Durante treinos com GPS contínuo, os dois passam fácil das 20 horas. E se você ativar os modos de economia, dá pra encarar uma ultramaratona sem medo.
O carregamento é feito com o mesmo cabo magnético, e leva cerca de 1h20 pra ir de 0 a 100%. Faltou só um detalhe: nenhum deles avisa quando a carga termina. Zero notificação, zero alerta — ou você fica olhando ou esquece.
Extras? Quase nada
Aqui é bom alinhar expectativas. Nada de pagamentos por aproximação, nada de suporte a apps, nada de integração com Alexa ou Google. A proposta é clara: foco total em treino, sem distrações.
Ambos têm modo não perturbe, modo sono, tema escuro, controle de música e brilho adaptativo. Mas não espere funções de smartwatch tradicional — esses relógios são quase monásticos nesse sentido.
E no fim das contas…
Não foi uma escolha fácil, mas ela ficou clara com o uso contínuo. O Amazfit Cheetah Pro entrega mais. Comandos por voz, alto-falante, visual moderno, interface mais polida, despertador inteligente, reprodução de música direto no relógio — tudo isso faz a diferença no dia a dia.
O Falcon é bruto, confiável, quase indestrutível — mas acaba preso em sua própria armadura. Falta versatilidade, leveza e agilidade nas interações. Pra quem só treina em montanha, pode até ser o ideal. Mas pra quem busca equilíbrio entre treino e praticidade, o Cheetah Pro voa mais longe.
Ele prova que dá pra ser esportivo e inteligente ao mesmo tempo — e, convenhamos, isso é raro de ver.


